quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

poesias

“ Imagem ”

Somente queria me mudar, já não lhe bastava o ser sensível,

compreensivo, amigo, era preciso mais.

Transformar-me era sua meta, era seu desejo, então eu o fiz:

Passei a estudar meus gestos, criar trejeitos,

expressões corporais,compor o vestuário, usar cores fortes

expressivas,mãos impecáveis, cremes, perfumes, colônias.

Tudo em estudado excesso. Como ela queria, por ela, pra ela.

Bom assim ela esperava, mas o meu olhar já era outro.

Estudava as pessoas, gostava do efeito de seduzir,

de ser carismático, cativante.

Os trejeitos tornaram-se pura representação, tudo e todos

eram minha platéia.

Primeiro as amigas, seus corpos se desnudavam

ao som de infantis adjetivos.

Depois as desconhecidas, eram meu fetiche predileto.

Meus desejos tornaram-se minha ruína moral.

Tudo que me agradasse tornava-se uma obsessão,

que as qualidades que ela exigiu, tornava cada vez maior.

Logo esqueci dela.

Tornei-me quem ela desejava e alguém que eu não conhecia.

Não pude retornar.


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" Esperando por ela "

Ingênuo, achava que a amava,

ela era meu céu, a as estrelas, tudo.

Estava enganado, não a amava,

não a amava da maneira como ainda iria amar,

não conhecia ainda o amor que havia por vir.

Amar realmente e intensamente eu só iria ao perdê-la.

Foi aí que conheci o inferno de amar,

a dor da perda, da distância, das vãs esperanças.

Por não mais vê-la, ela tornou-se presença constante

no meu pensamento, como um filme em eternas reprises.

O pouco que vivi ao seu lado mesclava-se a tudo

que não vivêramos, meu corpo lacerando-se a cada pensamento.

Então descobri o que é o amor.

E a sentença por amá-la fora o exílio na dor.

Não pude mais voltar.

Não pude mais sonhar.

Somente amar.

Sozinho.

Em dias tristes como o de hoje, só me consola olhar as estrelas.

Elas parecem tão próximas, mas também estão sós.

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“ Ainda esperando por ela ”

Não a podia esquecer.

A felicidade tem este dom viciante de não se deixar.

Estava preso a ela, tinha de me libertar.

As seis da manhã de um dia do qual não me recordo,

acordei escrevendo.

Pensamentos muitos, sentimentos muitos.

Tudo o que sentia e sentira depositei na tinta,

os versos correndo loucamente.

Trinta linhas e estava pronto; me sentia feliz, liberto,

as palavras que talvez ela nunca lê-se,

os versos que talvez não entendesse, conseguiu externar-los.

Tirá-los de mim num desabafo.

Um verso ela já conhecia,

duas linhas que eu lhe enviara em um dia ruim.

Era o prenúncio daquilo que ainda iria sentir.

Era um verso triste, algo sobre estrelas e solidão.

A poesia que escrevi era bela, trágica.

Tinha a força da dor, do desespero.

Porém ainda não estava completa, faltava-lhe o nome.

Escolhi: "esperando por ela", era um bom título,

suave, esperançoso.

Era uma tentativa de amenizar a dor dos versos seguintes,

era um pedido de perdão pela força das palavras que se seguiriam.

Agora restava apenas encontrá-la,

encontrá-la para que a poesia que escrevi, seguisse seu destino

e me libertasse.

Então, com o poema entre os dedos, me vi novamente procurando-a.

Novamente estava esperando.

Esperando por ela.

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"..."

corre vento, corre para longe

vai e guarda os mundos

sopra lento, canta e roda.

corre vento, vai como quem toca baladas

vai sopra, sopra ao por vir

toca suave uma canção de doze notas

canção do sol, sem letras me melodia

corre vento, corre para longe

pois a serenata do seu lamento

não se fez ouvir jamais

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“Busca"

Pesando os pensamentos, me vejo vagando,

viajo por entre os infinitos labirintos do meu ser,

vislumbrando portas fechadas e becos escuros,

Percebo a irrealidade do pensamento.

Vejo me onde eu não deveria estar.

percorro em mim um caminho de mil léguas,

longa estrada que não conduz a nenhum lugar.

Caminhos irreais, na incessante busca de mim mesmo,

sempre à procura de uma identidade, um caminho em mim,

que no entanto pareço condenado a nunca encontrar.

Pois tudo em mim está tão perto quanto tão longe.

Pois as respostas que procuro, não quero encontrar.

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“...”


vê o que vê

fala o que queres

ouve o que digo

mais importante é ouvir, é saber ouvir

ser convincente é se fazer ouvir com seu silêncio

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Somam-se pontas

dados sorteiam o destino.

Parado, Movo-me em mim.

No caos da cidade, procuro me.

O sistema atropela, castra.

O ser, aos montes, fecham-se em si.

Traços, abraços, confundem-se.

O cotidiano não é mais do dia-a-dia,

é o sangue que escorre do trabalho,

das mãos que matam e se matam.

A vida?

A vida não é dádiva é dívida!

E o mundo?

O mundo gira a quatro pernas,

alcançá-lo-ei com duas?

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“vinha”

vida minha vinha

garrafa sem rolha

garrafa vazia

quem de mim sorve, minha seiva

me assassina, bebe minha sede, sede minha mina

tapa minha boca, arrolha

sufoca na garrafa da vinha

minha sede, minha sina

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“ você ”

não vi em você o que queria

vi você como é.

Não como eu queria

mas como és realmente,

apenas simples e natural

não me destes falsas ilusões

não se escondera nas sombras

nem falsos véus.

No entanto você é

como eu gostaria de ser

és como és

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“ distancias ”

na noite tinha imagino perto,

sinto-te comigo, sem saudades,

abro olhos e não te vejo,

imagino que aqui esteve,

que não existe distâncias,

que a morte não se fez presente,

que a noite afaga a tristeza,

que não existem precipícios,

e que entre teus lábios

eu morro feliz

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“ eterno “

somente é eterno aquilo

que desejamos é ardentemente,

que permaneça vivo através do tempo,

mas somente os sentimentos permanecem,

pois somente eles resistem à ação do tempo.

porque eles vêem de dentro de nós,

do som que se emudece em nossas gargantas

e que só é expressa através do carinho e do afeto

das mãos que acolhem e consolam

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“secos”

Tão grande desgraça não nos abala

Tanta infelicidade não nos comove,

enquanto nos escondemos incomules

em nossa negligência sórdida

e tolos fingimos não ver.

Sertão, tão seco, tão árido.

Pedaço faminto de nós.

Urge um pouco d'água, de vida

que mate tamanha sede de solidariedade

que alimente tantas pequenas bocas

que clamam, que pedem, que imploram...

...em vão

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“ ... “

O belo é ilusão dos olhos e tormento do coração.

A beleza que escorre do tempo, apenas molha a ponta dos dedos.

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“ da dor “

Nunca você poderia supor que o me ferisse tão facilmente

nunca pensaria que suas palavras frias penetrassem tão fundo

e que suas esperanças fúteis me fizessem sofrer.

Pois mais insensível que a mão que mata, é a mão que fere

Pois se não é terrível o fato o é o ato, a intenção.

O que sabe você de sentimentos, para você nada representam,

não passam de figuras metafóricas, subjetivas.

Agora posso refletir a exata extensão dos seus,

posso esquecer você e seus falsos abraços.

Não sabe tu que amar é o olhar nos olhos

e encontrar uma alma refletindo a sua?

Sentir no calor dos lábios o gosto

das frases não ditas, desfeitas ao vento.

Quem é você, que só faz sofrer.


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“ perdas ”

eu espero você sair.

eu te pedi para você não ir

e agora, e agora

você está neste quarto branco,

tão branco com todas essas pessoas, de branco

eu te pedi para não ir,

e agora você está aí tão imóvel, tão triste

eu espero sair, sair para brincar de bandido e mocinho,

de marido e mulher

gostaria agora de estar no seu lugar,

sonhando o que você está sonhando.

te pedi para não ir

e agora nem sei se já te perdi.